Intoxicação por Metanol: um alerta neurológico
Nas últimas semanas, o Brasil tem registrado casos de intoxicação por metanol após o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas.
Essa situação acende um importante alerta de saúde pública: o metanol é uma substância altamente tóxica e pode causar cegueira irreversível, dano cerebral e até óbito mesmo em pequenas quantidades.
Como neurologista, considero fundamental orientar a população sobre os riscos neurológicos dessa substância e a importância da prevenção.
O que é o metanol
O metanol, também conhecido como álcool metílico, é utilizado na indústria — em combustíveis, solventes e produtos de limpeza.
Ele não deve ser ingerido. Quando consumido, é metabolizado pelo fígado em compostos tóxicos, como formaldeído e ácido fórmico, que interferem no metabolismo celular e causam lesões graves no sistema nervoso central e no nervo óptico.
Efeitos no sistema nervoso
Após a ingestão, o metanol é rapidamente absorvido e seus metabólitos passam a agir sobre o cérebro e os nervos.
Os sintomas geralmente surgem entre 6 e 24 horas após o consumo, e incluem:
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Dor de cabeça intensa;
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Tontura e fraqueza;
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Náuseas e vômitos;
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Visão turva ou perda visual súbita;
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Confusão mental, agitação ou sonolência excessiva;
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Em casos graves, convulsões, coma e risco de morte.
Esses sintomas refletem sofrimento do sistema nervoso, em especial do nervo óptico e das estruturas cerebrais profundas.
Complicações neurológicas
O metanol causa uma das intoxicações mais severas do ponto de vista neurológico.
Mesmo pequenas doses podem levar a:
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Neuropatia óptica tóxica – principal causa de cegueira irreversível por intoxicação;
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Lesões cerebrais visíveis em exames de imagem, especialmente no putâmen e na substância branca;
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Edema cerebral e encefalopatia hipoxêmica;
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Déficits cognitivos e motores permanentes, quando há atraso no tratamento.
Essas complicações são potencialmente evitáveis se o atendimento for precoce.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é clínico, associado a exames laboratoriais e de imagem.
O tratamento deve ser realizado em ambiente hospitalar e inclui:
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Administração de antídotos específicos (fomepizol ou etanol farmacêutico);
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Hemodiálise, para remover o metanol e seus metabólitos;
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Correção da acidose metabólica e suporte intensivo.
O tempo é determinante: quanto mais rápido o atendimento, menor o risco de sequelas neurológicas permanentes.
Prevenção
A intoxicação por metanol é 100% evitável.
Para reduzir o risco:
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Evite bebidas de procedência duvidosa — especialmente destilados vendidos sem rótulo, em embalagens reaproveitadas ou com preços muito abaixo do mercado;
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Desconfie de bebidas com gosto, cheiro ou aparência alterados;
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Caso perceba sintomas após o consumo de álcool, procure atendimento médico imediato, informando o tipo e a origem da bebida.
O metanol não tem gosto nem cheiro facilmente reconhecível, o que reforça a necessidade de cautela.
Considerações finais
O metanol é uma substância com potencial altamente neurotóxico, capaz de causar sequelas graves e irreversíveis.
A prevenção e o diagnóstico precoce são as principais formas de evitar complicações.
Informação e conscientização são fundamentais para proteger vidas — e para que tragédias como as recentes possam ser evitadas.